OS ENSINAMENTOS DA ÁGUIA
A vida é uma sucessão
de aprendizados. E, como diz o pensador, uma mente que se abre para uma nova
ideia, jamais voltará ao seu tamanho original.
Mas, para nos abrirmos
para as novas ideias, é preciso, muitas vezes, quebrar paradigmas, coisa não
muito fácil para muitos. Porque é sempre
muito mais fácil seguir sem questionar, firmando convicções baseadas,
simplesmente, na tendência apática de se adotarem ideias socialmente
consagradas.
Questionar convicções,
sobretudo se populares, que já surgem embaladas em critérios “éticos” descritos
como senso comum, pode parecer, à maioria, uma medida impopular, antipática
até.
Questionar o status quo e levantar dúvidas são
posturas típicas dos poucos que têm coragem e querem, realmente, buscar a
verdade real.
Mas nossos vacilantes
desejos de fazê-lo nascem já contaminados pela frágil convicção de que as
convenções adotadas pela maioria devem ter bases sólidas, e, assim, sufocamos
nossas dúvidas e nos incorporamos à manada, supondo, equivocadamente,que não
poderíamos ser os pioneiros nessa tarefa de desfazer “verdades”.
E foi por questionar o
senso comum da época, que Sócrates, o filósofo descalço, foi condenado à morte.
Ele foi justamente acusado de levantar suspeitas ditas paranoicas sobre a
veracidade das crenças e posições éticas do que era popular e tido como
verdadeiro à época.
Advogar por crenças
adquiridas por uma grande maioria decorre, invariavelmente, do fato de não se submeterem
essas crenças ao crivo da lógica, até porque as coisas que são rotulados de
“óbvias” muitas vezes não o são.
Essa postura de
mesmice, de seguir o óbvio, de acompanhar a maioria, que se vê no cidadão
comum, vem sendo reiterada, infelizmente, em todos os pretórios, por todos
aqueles que, diferentemente da multidão, deveriam buscar a verdade real para
efetivamente fazerem justiça, mas não o fazem.
Uma verdade real é
aquela que não enseja meios de ser racionalmente contestada. Se, ao contrário,
pode ser invalidada por qualquer argumento, ela é falsa, não importando o
número de adeptos ou a posição sócio/jurídica ou hierárquica dos que a
defendem.
Vale aqui lembrar a já
conhecida mas muito significativa lição da águia.
A águia é sinônimo de
inteligência, visão aguçada e perspicácia.
E isso não se dá somente pela sua beleza, ou pela sua velocidade.
O mais importante da
águia é sua capacidade inata de se autoavaliar e de se reciclar constantemente
para renovar-se.
Em sua vida, chega um
tempo em que as penas da águia envelhecem e ela já não voa tão bem, nem é mais
tão bonita.
Percebendo sua
decadência, ela voa até um alto monte e, uma a uma, arranca as penas velhas,
mesmo que dolorosamente, para que novas penas possam nascer e ela volte a voar
bem e ficar mais bonita.
Mas não é só. Há um
momento em que o cortante bico da águia envelhece, enfraquece e ela já não
consegue mais pescar com a mesma competência, nem emitir os mesmos sons.
Dotada de uma sabedoria
intuitiva e inata, ela procura uma grande pedra e nela bate com seu velho bico
até que ele se quebre e caia, para dar lugar a um novo bico.
Mas nós, humanos, não
seguimos esse paradigma. Quantas vezes mantemos nossas velhas penas, que já não
nos permitirem mais voar, seja por medo, comodismo ou desatenção, e não damos
espaço para as novas, de melhor performance?
Nossa índole é também
de mantermos o nosso bico velho. O mesmo
discurso, as mesmas razões, os mesmos argumentos, agasalhados em nossa cômoda zona de conforto.
Mudar pensamentos, evoluir ideias, fazer autoavaliações parecem algo trabalhoso
demais.
Mas é só mudando a nós
mesmos que conseguiremos mudar o mundo para melhor. E a águia nos dá um belo exemplo de mudança e
renovação.
E não é só. A águia é
uma das pouquíssimas aves que voa solitária. Ela não faz seu voo em bandos e,
talvez por isso, ganha as alturas rapidamente
O homem é um ser
gregário, é certo, e não pode viver ilhado ou alienado do mundo e das pessoas.
Mas isso não significa
que não deva ter ideias próprias. Seguir a multidão, seguir a manada só o leva
até onde a manada já chegou.
Como diz o
pensador, seguir a mesma trilha já
percorrida por outros, somente vai levá-lo até onde os outros chegaram.
É preciso desbravar
ideias, raspar o bico na pedra até cair e nascer outro, novinho, inaugurando
uma identidade própria. Ideias originais são sempre bem vindas. E nesse voo
precisamos estar sós.
Outra lição da águia é
a de humildade. Quando ela sente que o vento está muito forte, a ele não se
opõe. Ela dobra os joelhos e, humildemente, deixa que ele a conduza, de forma
que seu voo fique mais leve. Assim, tal como as plantas miúdas que se dobram
durante a tempestade, a águia vence a tormenta e, passada a mesma, volta a voar
alto na direção que deseja, comprovando que nem sempre a truculência, o
enfrentamento, o embate nos conduzem a bom resultado. Muitas vezes é preciso
ceder, baixar a cabeça, ajoelhar-se diante do vendaval....
E ser humilde não é ser
subserviente. Não é ser submisso. Não é também ser passivo. Ser humilde é ter
sabedoria para reconhecer que, muitas vezes, é preferível nadas a favor da
correnteza, ou voar a favor do vento para, com paciência, alcançarmos nosso
objetivo.
No
mundo jurídico, infelizmente, ainda há muitos que se julgam “águias” mas que
deixam seu bico envelhecer, suas penas desbotarem e perderem a força do voo, e
seguem em bandos cegos, sem coragem para gastar o bico na pedra, para ver
nascer um novo, e com preguiça de arrancar as velhas penas para dar origem às
novas.
São
esses os mesmos que firmam suas “convicções” no apático comodismo de seguir a
maioria, sem questionar onde realmente mora a verdade. Esses que emolduram a
ideia adotada e a penduram nas paredes do sempre, sem qualquer preocupação com
a realidade. Porque questionar o status
quo é postura trabalhosa. E quebrar
paradigmas é tarefa para os corajosos.
E
é por isso que sigo comungando da máxima do velho Raul: “Eu prefiro ser essa
metamorfose ambulante!.....”
Linda
Brandão Dias
Linda, me parece que essa sua crônica foi escrita na medida para mim. Questionar conceitos firmados e aceitos pela maioria é algo que tenho procurado fazer nos últimos anos, realizando a difícil tarefa de ir contra as minhas próprias crenças pessoais que fui adquirindo através dos anos seja por meio da educação familiar que recebi ou que me forma impostas pela própria sociedade em que vivo.
ResponderExcluirPrincipalmente crenças religiosas, onde pude perceber que “verdades absolutas” devem ser aceitas e abraçadas sem nenhum tipo de questionamento, se é dogma de fé, pronto, você tem que dizer amém a ele lhe sendo proibido pelos seus lideres religiosos em usar o raciocínio lógico para tentar descobrir se há algum fundamento coerente no que é ensinado através da verdade deste mesmo dogma de fé. E se você ousar questionar, os juízes da nova inquisição que sãos esses mesmos líderes religiosos lhe ameaçam com a fogueira da excomunhão. Isto é, você é cortado do seio da comunidade religiosa em que faz parte com o intuito de se sentir sozinho, desamparado, e uma vez sentindo-se assim quem sabe com o tempo se arrependa do que fez e volte atrás em suas novas convicções e deixe de lado o ato de questionar aquelas verdades absolutas que lhe são impostas e empurradas goela abaixo.
E assim é na política e em todos os segmentos da sociedade, vá contra o que a manada acredita e você será excluído do seio desta mesma sociedade manipulável pelas mãos e mente de um pequeno grupo hierárquico.
Então se a maioria acredita que a terra é plana, ai de você se questionando tal verdade ousar dizer que ela na verdade pode ser “redonda”. É fogueira de exclusão do meio em que vive na certa.
Quebrar o bico e trocar as penas é um processo doloroso para quem deseja ser uma nova águia, mas necessário para inaugurar uma nova mentalidade para aquele que deseja alçar voos mais ousados no céu do pensamento livre e lógico.
Parabéns querida, conhecer uma mulher inteligente como você sempre me dá um enorme e renovado prazer em meu coração e alma.
Beijos poéticos em ti e que a Deusa antiga esteja sempre contigo.
http://novoeltondasneves.blogspot.com
Elton
ResponderExcluirGostei do seu comentário. É exatamente assim. Vivemos, desde tempos imemoriais, entre os lobos, pois o os homens são os lobos dos homens. Quero dizer que, seja através da política ou da religião, ou do quer que seja, querem sempre nos meter goela abaixo dogmas, crenças e verdades “absolutas”, que tentam impor sem direito a questionamento. Por isso o processo de ser águia é tão doloroso. Aliás, Galileu Galilei sofreu na pele o peso da perseguição por revelar que a terra não era o centro do universo, mas que era ela – a terra – que girava em torno do sol. E ele estava certo. Muitos outros passaram pelo mesmo tortuoso caminho.
E são essas águias que, através dos tempos e da história vêm conseguindo mudar o mundo, contra tudo e contra todos, porque, com seus questionamentos, quebram paradigmas e lançam novas luzes sobre aquela “velha opinião formada sobre tudo”
Por isso eu quero sempre ser uma “metamorfose ambulante”, como disse o ppoeta Raul Seixas.
Obrigada pela sua participação em meu blog. Aliás, gostei muito do seu blog. Você escreve muito bem. E já sou mais um “anjo” seguindo o seu blog, com o meu blog de poesias.
Abraços.
Obrigada pelas lindas palavras. Já acessei o novo blog e adorei o "Vertigo". Deixei um comentário e já coloquei o seu novo blog nos meus favoritos. Abraços.
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